
Como lidar com a depressão na criança?
Até há algumas décadas, ainda se pensava que criança não deprimisse... na verdade, foi só a partir da década de 70, que os transtornos mentais infanto-juvenis começaram a ganhar maior credibilidade no meio científico. Mas até hoje, fazer um diagnóstico de depressão infantil pode ser um grande desafio. Porque nem sempre o quadro se configura como a depressão do adulto. As crianças podem não falar e apenas expressar a sua tristeza adoecendo ou apresentando uma alteração no seu comportamento.
10:00 hs -
A campanhia toca. Eu abro a porta. Glenda entra de cabeça baixa. A babá diz que vai dar uma volta para ver "as modas". Glenda senta no sofá e fica olhando para o vazio por algum tempo. Eu pergunto a ela o que houve, se ela está aborrecida com alguma coisa... Ela diz que não. Pergunto se ela quer jogar. Ela diz que não. Eu digo a ela que eu vou respeitar a vontade dela de ficar calada. Sento na minha cadeira e fico observando Glenda. Vejo uma mancha vermelha e um arranhão em seu antebraço. Fico pensando se aquelas marcas poderiam ter relação com o silêncio da menina. Curiosamente, ela estava sonolenta, quase dormindo no sofá, fato inédito, pois ela sempre chegava pulando e com vontade de brincar. Arrisquei uma pergunta. Esse machucado teria alguma relação com o seu silêncio de hoje? Você poderia me dizer como foi que aconteceu? Glenda me olhou com apatia. Balançou os ombros e virou a cabeça. Depois de um tempo, ela falou: "- Minha mãe gritou comigo, me xingou, berrou, foi horrível. Ela me agarrou pelo braço e me jogou na parede. Estava perturbada. Não adianta mais, tudo o que eu faço para agradá-la dá errado. Ela não confia mais em mim. Eu quero dormir pra sempre. Ela me deu unhada, esse arranhão é a unha dela... Silêncio. Procurei saber da minha pequena paciente o que teria deflagrado tanta violência. Pelo que pude ouvir da menina, nada que fosse significativo para tanto. A mãe havia bebido umas latas de cerveja, o telefone tocou, a mãe se aborreceu no telefone, entrou no quarto da menina e ficou com muita raiva porque ela ainda não estava vestida para vir à sessão. Começou a xingar a filha, a amaldiçoar todo o dinheiro que ela gastava com a menina e que era tudo em vão, pois a filha era uma lerda, uma débil mental e nunca iria ser ninguém na vida mesmo... Diante do pavor da menina, a mãe se exaspera ainda mais e a "chacoalha" pelos braços com força e a joga contra a parede, ....
Casos como esse, a gente não vê só em filmes ou gente muito diferente da gente. Acontece aqui e acolá com pessoas que poderiam ser nossos vizinhos... No caso da Glenda, havia alguns fatores agravantes, como o fato de sua mãe ser deprimida, do alcoolismo da mãe e de uma separação ainda recente. Tudo isso junto vinha causando profundo comprometimento na dinâmica familiar, com gritos, ameaças e agora chegando a agressão física. Glenda estava deprimida, sentindo a falta do pai e com medo das reações e ameaças de sua mãe. Vinha passando por problemas de desatenção na escola e havia feito xixi na cama por uma tres ou quatro vezes após a separação. Foi a gota d`agua para que sua mãe passasse a agir de modo hostil com a filha. E quanto mais isso acontecia, mais deprimida a menina ficava. Chamei a mãe da minha paciente à consulta algumas vezes, mas ela sempre dizia que não podia faltar ao trabalho. Ofereci atendimento à mãe no final de semana, pois eu precisava conversar com ela sobre a sua filha. Tres semanas depois, recebi um bilhete dizendo que ela teria que tirar a filha do tratamento por falta de tempo e de dinheiro...
Até há algumas décadas, ainda se pensava que criança não deprimisse... na verdade, foi só a partir da década de 70, que os transtornos mentais infanto-juvenis começaram a ganhar maior credibilidade no meio científico. Mas até hoje, fazer um diagnóstico de depressão infantil pode ser um grande desafio. Porque nem sempre o quadro se configura como a depressão do adulto. As crianças podem não falar e apenas expressar a sua tristeza adoecendo ou apresentando uma alteração no seu comportamento.
10:00 hs -
A campanhia toca. Eu abro a porta. Glenda entra de cabeça baixa. A babá diz que vai dar uma volta para ver "as modas". Glenda senta no sofá e fica olhando para o vazio por algum tempo. Eu pergunto a ela o que houve, se ela está aborrecida com alguma coisa... Ela diz que não. Pergunto se ela quer jogar. Ela diz que não. Eu digo a ela que eu vou respeitar a vontade dela de ficar calada. Sento na minha cadeira e fico observando Glenda. Vejo uma mancha vermelha e um arranhão em seu antebraço. Fico pensando se aquelas marcas poderiam ter relação com o silêncio da menina. Curiosamente, ela estava sonolenta, quase dormindo no sofá, fato inédito, pois ela sempre chegava pulando e com vontade de brincar. Arrisquei uma pergunta. Esse machucado teria alguma relação com o seu silêncio de hoje? Você poderia me dizer como foi que aconteceu? Glenda me olhou com apatia. Balançou os ombros e virou a cabeça. Depois de um tempo, ela falou: "- Minha mãe gritou comigo, me xingou, berrou, foi horrível. Ela me agarrou pelo braço e me jogou na parede. Estava perturbada. Não adianta mais, tudo o que eu faço para agradá-la dá errado. Ela não confia mais em mim. Eu quero dormir pra sempre. Ela me deu unhada, esse arranhão é a unha dela... Silêncio. Procurei saber da minha pequena paciente o que teria deflagrado tanta violência. Pelo que pude ouvir da menina, nada que fosse significativo para tanto. A mãe havia bebido umas latas de cerveja, o telefone tocou, a mãe se aborreceu no telefone, entrou no quarto da menina e ficou com muita raiva porque ela ainda não estava vestida para vir à sessão. Começou a xingar a filha, a amaldiçoar todo o dinheiro que ela gastava com a menina e que era tudo em vão, pois a filha era uma lerda, uma débil mental e nunca iria ser ninguém na vida mesmo... Diante do pavor da menina, a mãe se exaspera ainda mais e a "chacoalha" pelos braços com força e a joga contra a parede, ....
Casos como esse, a gente não vê só em filmes ou gente muito diferente da gente. Acontece aqui e acolá com pessoas que poderiam ser nossos vizinhos... No caso da Glenda, havia alguns fatores agravantes, como o fato de sua mãe ser deprimida, do alcoolismo da mãe e de uma separação ainda recente. Tudo isso junto vinha causando profundo comprometimento na dinâmica familiar, com gritos, ameaças e agora chegando a agressão física. Glenda estava deprimida, sentindo a falta do pai e com medo das reações e ameaças de sua mãe. Vinha passando por problemas de desatenção na escola e havia feito xixi na cama por uma tres ou quatro vezes após a separação. Foi a gota d`agua para que sua mãe passasse a agir de modo hostil com a filha. E quanto mais isso acontecia, mais deprimida a menina ficava. Chamei a mãe da minha paciente à consulta algumas vezes, mas ela sempre dizia que não podia faltar ao trabalho. Ofereci atendimento à mãe no final de semana, pois eu precisava conversar com ela sobre a sua filha. Tres semanas depois, recebi um bilhete dizendo que ela teria que tirar a filha do tratamento por falta de tempo e de dinheiro...
que trsite, tem gente que nao se preocupa mesmo com o mal que faz. As vezes estamos tao preocupados com "o basico" pra viver que o importante é deixado de lado....
ResponderExcluirtriste! muito triste